Mato Grosso do Sul tem a segunda maior taxa de suicídios entre jovens no país

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De cada dez pessoas que cometeram o suicídio no Estado, quatro são jovens
26/09/2017 - 19:15 Por: Juliana Turatti   Foto: Wagner Guimarães

Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), no mundo a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio e a cada três segundos uma pessoa tenta tira a própria vida. Nove em cada dez casos poderiam ser evitados. O diagnóstico é fundamental e o apoio da família ajuda no tratamento. O suicídio é considerado problema de saúde pública. Ainda é tema tabu para muitas famílias e a prevenção é a principal forma para impedir.

Mato Grosso do Sul é vice-líder no ranking nacional de suicídios entre jovens, com idades entre 15 e 29 anos. De cada dez pessoas que cometeram suicídio no Estado, quatro são jovens. Já em Campo Grande, de acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesau), nos três primeiros meses deste ano foram registradas 220 tentativas de suicídio, sendo que 126 dos que tentaram se matar são jovens, 163 mulheres, 57 são homens e 11 adolescentes.

Preocupados com os altos índices de suicídios cometidos no Estado, a deputada Mara Caseiro (PSDB), que também é membro da Comissão de Saúde da Casa de Leis, em parceira com o deputado Professor Rinaldo (PSDB), propuseram a audiência pública ‘Setembro Amarelo: Unidos na prevenção ao suicídio’. O evento foi realizado nesta terça-feira (26/9), na Assembleia Legislativa.

“O tema tem afligido e muito a nossa sociedade. Não é possível vermos diariamente pessoas ceifando suas vidas e não fazermos nada. Como nós podemos agir e salvar essas vidas? Não queremos falar só em números, queremos falar em causas e também buscar alternativas para ajudar. Nosso objetivo é a prevenção”, afirmou a parlamentar. O deputado Professor Rinaldo complementou. “Mais importante do que as estatísticas é o debate de um tema tão necessário e relevante e que tem tirado a vida de tantas pessoas. Temos como meta sairmos daqui mais preparados para ajudar as pessoas que precisam”, destacou.

O gestor do Centro de Apoio Biopsicossocial do Corpo de Bombeiros Militar e coordenador do curso de Prevenção ao Suicídio do Hospital Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Capelão Edilson dos Reis,  falou da sua experiência.  “Temos visto que infelizmente o jovem hoje não sabe lidar com frustrações e a falta de limites também é um fator que influencia. O núcleo familiar está adoecido. Quando falamos de suicídio, nós estamos nos referindo a falta de qualidade nas relações interpessoais. Quem está sofrendo precisa falar sobre o assunto, compartilhar o que sente. Quem está sofrendo não quer ser ignorado e julgado, quer apenas poder falar. É um conjunto de ações que ajuda no resultado para que a pessoa não cometa o suicídio", revelou.

O médico psiquiatra, Marcos Estevão dos Santos Moura, trouxe alguns esclarecimentos. “O que leva uma pessoa a tirar a sua própria vida é muito difícil de determinar, pois as pessoas já têm uma predisposição. Não se pode comparar o sentir de uma pessoa com o de outra. Alguns fatores contribuem para o suicídio, como a vulnerabilidade genética e a estrutura familiar. Ao realizar o ato, ele não quer morrer, ele quer é a acabar com seu sofrimento. Suicídio é a morte da saúde mental e todos nós temos que compartilhar a responsabilidade na busca de soluções”, advertiu o psiquiatra.

“Nós convivemos diariamente com essa questão do suicídio na universidade. Ele é envolto em muitos tabus. Tudo que envolve a saúde mental é estigmatizado. É uma questão que o mundo precisa abrir os olhos e criar estratégias de enfrentamento”,  reforçou a coordenadora do curso de psicologia da Universidade Anhaguera-Uniderp, Camila Sichinel.

A coordenadora do curso de enfermagem da Faculdade Mato Grosso do Sul (Facsul), Francine Ramos, trouxe um pouco do que vivencia na educação. Ela ressaltou que a faixa etária mais atingida no Estado é a dos jovens que estão na academia. “É necessário e urgente uma capacitação para os professores, porque são eles que estão diariamente com essa faixa etária que está tão suscetível e desta forma poderemos identificar e também saber dar um encaminhamento apropriado. A formação dos alunos em saúde tem que ser voltada para formar profissionais que estejam perto deste debate e que possam saber com acolher essa pessoa que comete o suicídio. Precisamos formar enfermeiros que possam acolher essa pessoa, com respeito e empatia”, alertou a coordenadora.

Para o subscretário de Políticas Públicas para a Promoção LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), Frank Rossatte da Cunha Barbosa, é preciso políticas públicas direcionadas a este público. “A mutilação é muito comum no público trans, que tem dificuldades de aceitar o corpo que nasceu. O apoio familiar é muito importante para o trans que busca a aceitação. Há o medo da sociedade que julga sem saber", relatou Barbosa.

Já o subsecretário de Políticas Públicas para a Juventude de Mato Grosso do Sul, Thiago de Freitas Santos, fez um relato pessoal . “Há 40 dias, eu tentei o suicídio e quero reforçar que as redes sociais podem camuflar o que estamos sentindo no dia a dia. Falar sobre o assunto ajuda e muito quem está com este problema”, assegurou.

“O melhoramento do atendimento a saúde mental de crianças e adolescentes do Estado, curso de prevenção ao suicídio nas escolas em parceria com as universidades, análise e estudo da lei que proíbe o corpo de bombeiros a conter as pessoas que possam estar em surto, rever a internação compulsória, que há uma dificuldade de quando a pessoa está em surto poder autorizar que ela seja internada. Também será avaliado a política antimanicomial, que uma política que a tendência é acabar com os hospitais psiquiátricos e que não se levou em consideração que quando as pessoas que estão em surto, necessitam de um atendimento especializado”, registrou Mara Caseiro. A parlamentar disse ainda que irá solicitar atendimento mais especializado ao público trans e que o atendimento ambulatorial seja realizado sem preconceito, e também vai buscar a criação de algum recurso especifico que possa ir para os municípios que não possuem Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Conforme a deputada, todas as propostas serão encaminhadas para o Ministério da Saúde, Senado Federal, Câmara de Deputados e para as secretarias municipal e estadual de saúde para que todos juntos possam construir políticas públicas que venham atender o combate e a prevenção ao suicídio.

Também participaram do debate o subsecretário de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial e Cidadania de Mato Grosso do Sul, Leonardo de Oliveira Mello e o membro do Conselho Diretivo Estadual da Cruz Vermelha, João Batista Dourado de Assis.

Onde buscar ajuda - Nas escolas clínicas de psicologia, nos Centros de Atenção Psicossocial, nas Unidades de Pronto Atendimento, nos telefones 3383-4112 e 3383-4113 do Grupo Amor à Vida (Gav), 193 do Corpo de Bombeiros e 190 da Polícia Militar.

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