1º governador eleito pelo voto popular, Dr. Wilson deixa legado a MS

Imagem: Bom ouvinte e firme defensor das causas democráticas, Dr. Wilson morreu em Campo Grande nesta terça-feira
Bom ouvinte e firme defensor das causas democráticas, Dr. Wilson morreu em Campo Grande nesta terça-feira
13/02/2018 - 13:41 Por: Fabiana Silvestre e Fernanda Kintschner   Foto: Wagner Guimarães/Arquivo ALMS

Aos 100 anos, sendo 60 deles dedicados à vida pública, Wilson Barbosa Martins descansou nesta terça-feira (13/2), como afirmaram familiares e amigos. A saúde vinha debilitada e o corpo já frágil não aguentou as complicações cardíacas e pulmonares. Dr. Wilson, como era carinhosamente chamado, estava na própria casa, em Campo Grande. 

Reconhecido pela fala serena, tinha na honestidade uma das marcas pessoais. Calmo e seguro, costumava ouvir os companheiros à exaustão, mas decidia com firmeza. Não abria mão da autoridade, mas recusava-se a ser autoritário, e inspirou políticos que lhe sucederam. 

A trajetória começou em terras adquiridas pela família mineira no antigo Mato Grosso. Dr. Wilson nasceu no dia 21 de junho de 1917 na Fazenda São Pedro, região de Vacaria, que pertenceu a Campo Grande e que atualmente faz parte do município de Rio Brilhante. Formou-se em Direito na Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo. Em 1946, foi secretário-geral da Prefeitura de Campo Grande, na administração do prefeito Fernando Corrêa da Costa.

Em 1958, foi eleito prefeito da Capital, substituindo Marcílio de Oliveira Lima. Filiado ao partido da União Democrática Nacional (UDN), foi eleito deputado federal por Mato Grosso do Sul em 1963. Foi reeleito em 1966 e cassado pelo Ato Institucional número cinco (AI-5) em 1969, tendo os direitos políticos suspensos por dez anos.

Foi um dos principais defensores do Movimento Divisionista, que culminou com a criação de Mato Grosso do Sul, em 11 de outubro de 1977. Dois anos depois, em 1979, foi eleito o primeiro presidente da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Mato Grosso do Sul (OAB-MS), mesmo ano em que recuperou os direitos políticos. 

Ajudou a fundar o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e, em 1982, foi o primeiro governador eleito pelo voto direto, juntamente com Ramez Tebet, então vice-governador, em um pleito histórico realizado no dia 15 de novembro de 1982. A eleição representou o restabelecimento do voto direto para a escolha dos governos estaduais, que havia sido suspenso pelo regime militar no ano de 1966. 

Dr. Wilson concluiu a pavimentação da BR-262, ligando Três Lagoas a Corumbá, e estruturou as carreiras públicas. Estimulou a sindicalização entre as categorias, inclusive do setor privado. No segundo Governo, de 1995 a 1998, construiu a ponte sobre o Rio Paraguai, entre outras realizações. 

Antes de concluir o mandato de governador, conquistou uma cadeira no Senado Federal e integrou a Comissão de Sistematização da Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou a Constituição de 1988, ainda vigente no país. Defendeu veementemente o fortalecimento e a autonomia dos estados e municípios. 

Em 2010, publicou o livro Memória - Janela da História, que chamou de "prestação de contas ao povo sul-mato-grossense". Além de narrar a trajetória pessoal, narrou episódios importantes da história de Campo Grande, de Mato Grosso do Sul e do Brasil. Wilson Barbosa Martins casou-se com Nelly Martins, com quem teve três filhos: Nelson, Thaís e Celina. Nelly faleceu em 2003 e a filha, Celina, ex-deputada estadual e conselheira do Tribunal de Contas (TCE-MS), faleceu em 2011. Wilson teve oito netos, um deles já falecido, José Eduardo Martins Jallad (Zedu, filho de Celina), e nove bisnetos. 

Homenagem

Sessão Solene realizada na Assembleia Legislativa, no dia 26 de junho de 2017, marcou o centenário de vida do Dr. Wilson. A solenidade, realizada em conjunto com o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul (IHGMS) e a Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, contou com a presença de familiares e amigos, que relembraram a história do ex-chefe de Governo. Acamado desde 2013, por conta de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), Dr. Wilson foi representado pela filha Thais Martins durante a solenidade, proposta pelo deputado Eduardo Rocha (PMDB). 

Na ocasião, o presidente da Casa de Leis, Junior Mochi (PMDB), também ressaltou o legado do ex-governador. "Dr. Wilson trilhou sempre o caminho da democracia e da liberdade. Fortaleceu o sindicalismo, ainda que isso representasse fortalecer adversários. Superou divergências históricas para construir alianças, criando um ambiente de unidade que atraiu investimentos e lançou bases da diversificação da nossa economia. Por tudo isso e muito mais que reconhecemos como referência da nossa vida política e celebramos a vida de Wilson Martins que chega aos 100 anos", afirmou (leia mais aqui).

Serviço 

O velório está previsto para começar às 15h, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens de Camilo, no Parque dos Poderes, em Campo Grande, e seguirá até às 22h, sendo retomado nesta quarta-feira (14/2), às 6h. O sepultamento será no Cemitério Parque das Primaveras, às 10h desta quarta-feira.

Permitida a reprodução do texto, desde que contenha a assinatura Agência ALEMS.
Crédito obrigatório para as fotografias, no formato Nome do fotógrafo/ALEMS.